Hoje, buscando atualizar a versão do SketchUp Make instalada em minha máquina, me deparei com uma situação curiosa. O software que sempre usei de forma residente no macOS para modelagem 3D não existia mais* e, agora, com a alcunha de SketchUp Free, rodava diretamente do navegador. De início, estranhei. Reclamei. Abri o Google buscando um coral assíncrono de vozes para cantarem comigo contra essa blasfêmia; buscando uma indignação que com certeza estaria lá, nos fóruns de tecnologia da interwebs, fosse ela em ptbr ou em inglês.
Spoiler Alert: Ela não estava lá. E em lugar nenhum.
Após remoer a mágoa e ressentimento por alguns minutos (“Se ainda fosse do Google com certeza teria uma versão pra instalar!!!!”), comecei a refletir sobre essa situação e percebi que essa não era a primeira vez que isso me acontecia… e acabei por concluir que provavelmente não seria a última. Alguns minutos depois, percebi também que essa questão estava intimamente ligada a um outro assunto sobre o qual venho refletindo há algum tempo:
Quando o design da experiência é muito bom, a tecnologia desaparece!
É, eu sei que é confuso. E, por isso, vou separar esse assunto em tópicos para abordarmos um a um, com foco nesse caso emblemático do tal SketchUp.
1. Instalar aplicativos é uma tarefa que pode ser extremamente frustrante
Hardwares, drivers, sistema operacional, versão, compatibilidade com outros sistemas instalados, espaço de armazenamento… essas são apenas algumas das questões que podem fazer uma instalação dar errado. Para o público leigo – ou mesmo não tão leigo assim -, uma simples tarefa de instalação pode trazer barreiras catastróficas para a experiência como um todo.
2. Bala de canhão para matar formiguinha
Quando trabalhamos com segurança da informação, aprendemos nas primeiras horas que os sistemas devem limitar aos seus usuários a visualização e a manipulação apenas das informações que a eles competem. Nesse contexto, significa que você não precisa das ferramentas mais avançadas de um software para fazer aquilo a que a versão gratuita se propõe… se você tiver acesso a elas, ou elas poluirão sua experiência – ahh, o primeiro retângulo que desenhei no AutoCAD ou o primeiro corte que vídeo que fiz no Adobe Premiere! – ou permitirão que você faça coisas que você ainda não está preparado para fazer (algo como a senhora do interior que resolveu restaurar a pintura de Jesus, lembra?).
3. Sharing is Caring!
Se existir algum órgão ou instituição que seleciona a palavra da década, provavelmente o resultado dessa segunda década do século XXI estampará em letras garrafais: C O M P A R T I L H A R – ou SHARE, para os mais íntimos. E, se o acesso a internet é um pré-requisito para utilização do software, os recursos de compartilhamento e co-criação são deliciosamente inevitáveis e de despercebida implementação (faltou aqui um sinônimo melhor para “seamless”, mas acho que deu pra entender o ponto).
4. Sem atualizações, sem crashes, sem desinstalar, sem pagar para atualizar, sem burocracias.
Acessar um sistema diretamente pelo navegador significa eliminar umas várias etapas do processo. Significa também a possibilidade de captação e registro da experiência dos usuários para melhorias de UX/UI e a garantia de que a maior parte da sua base de usuários utilizará uma versão atualizada do seu aplicativo. Para nós, usuários, significa não precisar se preocupar se o arquivo .skp ou .dwg que você gerou vai abrir na máquina do coleguinha quando precisar enviar para ele por e-mail aquele modelo do projeto. Na verdade, significa nem precisar mandar nada por e-mail – que arcaico pensar assim – e sim convidar seu colega para trabalhar colaborativamente com você no mesmo modelo.
5. Compatibilidade
Celular, Tablet ou Computador (e se bobear até uma geladeira ou outra), qualquer dispositivo com tela e acesso à internet está habilitado – em tese – a rodar o aplicativo desejado. O que significa que você não precisa utilizar o sistema operacional específico para conseguir executar as atividades necessárias. Libertador! O suporte faz função meramente de meio.
Portanto…
Teremos um momento no futuro para falarmos melhor especificamente sobre como as tecnologias desaparecem quando a experiência é boa… mas, percebam como o simples gesto de transferir os recursos de um sistema residente para um aplicativo online requalifica absolutamente a experiência como um todo. Nem importa muito a magnífica façanha de entuchar num navegador da web as mesmas funções que há 20 anos demandavam computadores do tamanho de locomotivas quando essas funções simplesmente funcionam.
Existem, claro, questões ainda a serem discutidas. A principal delas, de cunho técnico e social: e os locais, regiões e grupos que não tem acesso à internet? Para estas, penso que a universalização de acesso é uma resposta melhor que a restrição; mas este é um assunto para outro artigo. Hoje, me contento em admirar a capacidade que o design tem de, em seu ápice, desaparecer.
*Se você quiser, ainda pode baixar a versão PRO. Ao final do trial de 14 dias, ela perde as funções adicionais e torna um Sketchup Free residente